sábado, 19 de agosto de 2017

O Livro Dos Espíritos - Conclusão - 8 - 

Certas perguntam pessoas: os Espíritos nos ensinam uma moral nova, superior à que o Cristo ensinou? Se essa moral é a do Evangelho, para que serve o Espiritismo? 

Esse raciocínio assemelha-se ao do califa Omar, referindo-se à biblioteca de Alexandria, dizendo: “Se ela contém apenas o que existe no Alcorão, é inútil; portanto, deve ser queimada. Se contém outra coisa, é má; portanto, ainda é preciso queimá-la”.

Não, o Espiritismo não ensina uma moral diferente da de Jesus; mas perguntaremos: Antes de Cristo, os homens não tinham a lei dada por Deus a Moisés? Sua doutrina não se encontra no Decálogo? Por isso, se dirá que a moral de Jesus era inútil? Perguntaremos ainda àqueles que negam a utilidade da moral espírita: por que a do Cristo é tão pouco praticada e porque os que lhe proclamam com justiça a sublimidade são os primeiros a violar a primeira de suas leis: a caridade universal? Os Espíritos vêm não apenas confirmá-la, mas mostram sua utilidade prática; tornam inteligíveis e claras as verdades que tinham sido ensinadas apenas sob a forma alegórica; e, ao lado da moral, vêm definir os problemas mais profundos da psicologia.


Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem; porque Deus — que o enviou para fazer lembrar sua lei desprezada — não enviaria hoje Espíritos para lhes lembrar de novo e com mais precisão, quando a esquecem para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça? Quem ousaria impor limites ao poder de Deus e Lhe traçar normas? Quem nos diz que — como afirmam os Espíritos — não são chegados os tempos preditos e que não chegamos ao tempo em que as verdades mal compreendidas ou falsamente interpretadas devam ser abertamente reveladas à humanidade para apressar seu adiantamento? Não há algo de providencial nessas manifestações que se produzem simultaneamente em todos os pontos do globo?


 Não é apenas um único homem, ou um profeta, que vem nos advertir. A luz surge de todas as partes. É um mundo totalmente novo que se desdobra aos nossos olhos. Assim como a invenção do microscópio nos mostrou o mundo dos infinitamente pequenos que desconhecíamos que existissem e o telescópio nos mostrou milhares de sóis e planetas que também desconhecíamos, as comunicações espíritas revelam o mundo invisível que nos cerca, cujos habitantes se acotovelam conosco constantemente e, contra nossa vontade, tomam parte em tudo que fazemos. Mais algum tempo e a existência desse mundo, que nos espera, também será tão incontestável quanto o mundo microscópico e dos sóis e planetas que giram no espaço. Então, de nada valerá nos terem feito conhecer todo um mundo? De nos ter iniciado nos mistérios da vida além-morte?

É verdade que essas descobertas — se assim podemos chamar — contrariam de certo modo certas ideias pré-estabelecidas. Mas todas as grandes descobertas científicas não modificaram igualmente, e até mesmo derrubaram, as ideias de maior crédito? E não foi preciso que nosso amor-próprio se curvasse diante da evidência?


O mesmo acontecerá com relação ao Espiritismo e, em pouco tempo, ele terá o direito de ser citado entre os conhecimentos humanos. As comunicações com os seres desencarnados deram por resultado nos fazer compreender a vida futura, fazendo com que a vejamos, nos preparando para os sofrimentos e prazeres que nos esperam segundo nossos méritos e por isso mesmo encaminhar para o espiritualismo aqueles que viam nos homens apenas a matéria, a máquina organizada. Também tivemos razão em dizer que o Espiritismo matou o materialismo pelos fatos. Se tivesse produzido apenas esse resultado, já bastante gratidão lhe deveria a sociedade; porém, faz mais: mostra os inevitáveis efeitos do mal e, consequentemente, a necessidade do bem. O número daqueles a quem proporcionou sentimentos melhores, neutralizou as más tendências e desviou do mal é maior do que se pode pensar e aumenta todos os dias. É que para estes o futuro deixou de ser uma coisa imprecisa, vaga; não é mais uma simples esperança, é uma verdade que se compreende, que se explica, quando se veem e ouvem aqueles que vêm até nós se lamentar ou se felicitar pelo que fizeram na Terra. Todo aquele que é testemunha disso se põe a refletir e sente a necessidade de se conhecer, de se julgar e de se modificar.

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